ÊXODO

Quarenta anos no deserto é pouco

para quem acredita na terra prometida.

O sol causticante,

as tempestades de areia,

o intenso frio das noites,

as cobras, os escorpiões,.

nada aquebranta o ânimo

de quem caminha para a terra prometida.

A sede não mata,

pois há abundância de água nas rochas

para aquele que com fé

busca a terra prometida.

As poderosas milícias do faraó

estancam ante a cortina de fogo

que desce dos céus e protege

os que marcham para a terra prometida.

O mar pensado intransponível

transforma-se em estrada

para dar passagem segura

aos que caminham para a terra prometida

mas, implacavelmente,

devora os seus perseguidores.

Há cansaço. Há desânimo. Há descrença.

Há a sedução do bezerro de ouro,

na sucessão dos dias,

mas também há orvalho

que se transforma em maná

e codornizes que chegam com o vento do mar

para alimento dos caminhantes

fortalecendo-os na fé.

Também eu estou há caminho,

e depois de quarenta e cinco anos

não sei quanto tempo ainda me resta.

Não importa.

Quem sabe se, como Moisés no Hebron,

não irei desaparecer

ante a visão da terra fértil,

onde jorra leite e mel,

sem poder gozar das suas delícias?

Não sei, mas ainda assim

estou a caminho

e busco minha terra prometida.

Quanto tempo ainda me resta?

Belém - 1993