NEM PENSE NISSO!

Francisco,

não pense nisso.

Matar-se para quê?

Amanhã tudo volta a ser o que era antes,

ou volta tudo com novas faces e cores,

ou nada volta, mas você se acalma...

Ah, nem pense em morrer agora...

a festa ainda nem começou.

Ainda vão trazer a cerveja, o bolo, os CDs da Banda Calypso,

e o pessoal do Clube da Cachaça prometeu se reunir

sem brigas, tiros, garrafa voadoras ou couro arrancado.

Ainda há muitas coisas que você não sabe.

Os risos falsos ainda lhe enganam,

os idiotas ainda pensam que lhe convencem,

as músicas da banda Spring, você só conhece duas.

Enfim, Francisco, há muito a ser feito,

bebido,

sorvido,

absorvido,

observado,

compreendido.

Você ainda pode ter outros filhos,

ou alguns netos, todos eles flamenguistas como você.

Há muitas quedas ainda a serem contempladas,

de gente que abusou de sua benevolência

e lhe empurrou para o rol dos a serem temidos.

Há pecados a serem expurgados,

há versos a serem lidos.

Tanta coisa, tanta coisa...

Não pense nisso,

Francisco!

O fim da morte, alguém disse,

é o olvido...