Rega dor
Cá estou regando o poema que não brota,
Apenas porque a inspiração não chove;
No traseiro a nítida marca de uma bota,
De quando enxotar-me lhe aprouve;
Falta binóculo pra ver o desfile da frota,
Mas, bem sei o quanto ela se locomove...
O sol ferindo fundo com sua espada, brasía
E preso à faina, pouco vale pedir socorro;
Na senzala da dor a alma sonha com alforria,
E o destino mandando fingir que sou forro;
Pobre diabo, derrotado; sargento Garcia,
Costurando a farda com a marca do Zorro...
Dou tapas na fuça da sorte, como podendo,
meu amor não tem futuro, como tem passado!
Aos obuses de cantadas baratas, não me rendo;
Sem amor, que fique assim, vazio do meu lado;
Às vezes vejo bem longe, mesmo nada vendo,
sonho ser fazendeiro, apesar dessa vida de gado...