TROCANDO DE COMPANHIA
TROCANDO DE COMPANHIA
No quarto onde há tempos dormia,
apenas eu e a minha solidão,
inesperadamente,
a sombra da morte veio nos visitar...
Em segundos revivi toda minha vida
e percebi que tinha me esquecido de vivê-la,
já há tanto tempo...
Como poderia a morte querer me levar,
se eu ainda não tinha aprendido a viver?
Recordei das minhas tantas noites vazias...
Dos amores que eu sonhei viver,
os prazeres que não desfrutei,
os sonhos que não tentei realizar,
os projetos que deixei no meio do caminho,
amigos que não mais procurei,
as coisas que me esqueci de anotar,
rascunhos que deixei de descartar...
Enfim, eu me lembrei que eu tinha tanto para realizar,
tantas coisinhas que eu não fiz
e que poderiam ter-me dado tantos momentos felizes,
mas, deixei tudo para depois...
E de repente,
vinha esta visita indesejada,
avisar-me que meu tempo se esgotou...
Pedi...
Chorei...
Implorei...
Pedi que me deixasse mais um pouco aqui,
apenas o tempo para resolver estas pendências e outras mais,
que naquele momento eu não me recordava...
Senti um olhar frio sobre mim,
como se me condenasse
pelo tempo que eu tive e não aproveitei para fazê-las...
Expliquei mais uma vez...
Não, não me olhe assim,
eu sei que você tem toda razão
mas, por favor, eu rogo... Vá embora!
Se você não pode partir sozinha,
leve com você a minha solidão
não mais preciso dela,
acabo de descobrir uma melhor companhia...
Hoje eu ainda durmo no mesmo quarto,
agora com a esperança,
de poder recomeçar a cada nova manhã!
Célia Jardim