AS CRIANÇAS
As crianças
A criança da faixa de gaza
A criança lá do Vidigal
A criança do apartamento
A criança de rua, de casa e quintal
É a mesma criança de sempre
Tão ingênua e contente
Tão cheia de sonhos
Eu sei, eu sabia, mas hoje já não sei
Porque antes ela usava uma atiradeira
E hoje tem uma arma
Porque ela hoje bate em nós
Ela nos desarma
Usa todos os seus artifícios
Será que isso é um bom sinal ?
Algo natural pra se conviver com o social ?
Eu antes queria ter muitos filhos
Mas agora não mais
Queria pensando numa prole que me desse paz
Mas elas já nascem sabendo,
Já nascem falando
Tomara que nunca venham a nascer xingando
E nos aprisionando como cães sem dono
Em pleno abandono
E além do mais que a longevidade está aumentando
Você já pensou mais velhos que crianças na mesma dança da vida a girar
Tontos muitos vão ficar
E além do mais onde estará a esperança?
Crianças sempre crianças, mas não tão tolas
A iludir e se proteger com seus segredos
Dá medo essa evolução ou será uma involução?
Mas é a vida e é bonita como diz Gonzaguinha filho de Gonzagão
No entanto sem responsabilidades como posso curtir
Esta canção antiga que eu antes cantava
Nos bares onde antes eu bebia
Com a rapaziada
Que hoje de cabelos brancos contemplam seus netos
Se as crianças de hoje não são parecidas
Como as de antes, as de outras vidas
Será que são as mesmas crianças
Trajando outros corpos em trança
Cobrando de nós uma maior aliança?