... SOU CIDADE PEQUENA ...
A cidade está sob meus pés,
quando chego a janela,
ela se curva para mim.
As pessoas sonham debaixo da minha sacada.
A cidade parece carente, imóvel.
Ela pede-me algo, que eu não sei
bem se é prosa ou compaixão.
A cidade precisa de afago.
A cidade tem dia que sou eu,
o dia é pouco e muito quente.
quero passear a noite, deixar que
a lua entre pelas frestas do telhado.
Sou parecida com a cidade.
Sinto-me só apesar da multidão.
Casas enfileiradas, pessoas andando...
Os telhados empoeirados e de olhos pregados.
A cidade precisa de chuva mansa.
para que fiquem limpos os tetos das casas.
De cara nova as árvores e as flores,
esboçando seu mais novo sorriso.
Eu preciso da chuva, para percorrer meu corpo,
purificar minha alma.
Quando meu coração estiver limpo,
irei sorrir novamente e sonhar outro sonho.
Devo aconselhar a cidade.
Não seja nunca tão grande, que eu não possa
entendê-la, seja pequena que eu possa
vê-la da minha janela.
Se você crescer eu não a entenderei mais.
Serás uma estranha, uma fulana qualquer.
terás problemas demais, a chuva
será pouco, e a noite também.
Sou cidade pequena, preciso
de afago, de chuva...
De margaridas sorrindo acanhadas,
da lua que impera a noite e meu coração.