E a poesia?
Falta poetizar
Sobre as pontes pêndulas do caminho,
Sob elas abismos nada transponíveis
E uma jornada que começou há muito.
Falta poetizar
Sobre espinhos escondidos na grama macia,
Caídos de árvores frondosas e antigas
Em balanço ventilado, inquieto, vultuoso.
Falta poetizar
Sobre a dor que se recusa a ir pra nunca mais,
Daquele tipo que lá dentro grita silenciosa
No latejar cárdio intervalado do peito frágil.
Falta poetizar
Sobre o lamento que tenta se calar
Em choros premidos, retidos, adiados,
E no olhar fixo num certo infinito vazio.
Falta poetizar
Sobre o bem que ainda não é, nem nunca foi,
Vendido ao mal que, traiçoeiro, grassa e corrói,
Fazendo parecer que não pode haver outro fim.
Falta poetizar
Sobre uma primavera sem beija-flores,
Porque nela sequer há flores para serem beijadas
Neste outono persistente e prolongado.
Falta poetizar
Bem mais sobre o Vento que sopra cicio,
Cobrindo abismos, tirando espinhos, a dor e o lamento,
Devolvendo o bem e as flores a mim e aos beija-flores.
Por onde andas, poeta,
Se ainda há muito a ser poetizado?
Copyright © Setembro 2012 Luís Wesley de Souza