OUTONO
Nem ser jovem e belo:
O amor melhor é sempre dentro
E perto.
— Lya Luft – Viagem.
O amor melhor é sempre dentro
E perto.
— Lya Luft – Viagem.
1
Adormeceu-me o verão no vale das avenidas
Numa primavera sedentária — campo
Plácido da solidão, sossego de um recanto
Para o repouso dos ossos, das feridas...
O verão que se inclinou há pouco, entretanto
Vejo-o agora adormecer-se das batalhas amargas,
Das glórias inquestionáveis, missão
Derradeira de um conto de fadas
Num prenúncio (instante de despedida).
Avistei meu remate — aceno sonolento de verão.
2
No crepúsculo, vem a misericórdia entardecida.
O crepúsculo traz brisas de perfume;
Quando, assim indulgente, maiúsculo,
Traz ainda bálsamos o crepúsculo;
Traz, sobretudo, meigas saudades da vida.
O crepúsculo é vermelho, um matiz
De carne, sangue incendiado, agressão...
Entretons de vermelho muito são,
Pinceladas ofensivas postas sobre cicatriz.
3
Adormeceu-me insano verão no vermelho
De um crepúsculo apinhado de cicatriz,
Ambição de calma secular, meu repouso.
A lua então se ergue. A última estrela se acende.
Antes do amanhecer, a noite às vezes surpreende:
Condena-me a noite a morrer aprendiz.
Minha noite inteira de fuga, no sono,
Restaura sonhos de amores doces, incríveis,
De afagos imaginários — que nunca os tive...
Manda abrir os olhos, acorda o meu outono.
4
Desperta-se num balouço risonho
O outono. (Redescobre-se num aposento sem parede.)
–Numa cor invasiva, ergue-se o outono, moço, verde.
*Poema inaugural do livro "Outono Verde"