Providência do Tempo
Eu quero curar essa dor
Que de tão forte me desanima.
Alguém me projete um escudo protetor
Para blindar-me desta sina.
Minha pulsação anda mais lenta.
Os meus olhos já não respondem.
Eu desejei habitar outro corpo,
Mas estou estática, no mesmo de ontem.
À noite, da janela,
Pensei em desistir
Encontrar tudo o que eu sentia e não via
Não tinha outro lugar melhor pra ir.
As imagens repentinas
Passavam como num sonho:
A ideia de um corpo boiando, ou de uma cabeça estourando.
Parecia-me mais justa do que a vida que estava se desenrolando.
Mas desistir
Talvez não fosse a melhor saída.
De alguma forma seria dor para outras pessoas
E de dor entendo muito bem, não a desejo pra ninguém.
Ainda me embriagam
Estas vozes mentais.
Tantas besteiras,
Motivos tão banais.
Em alguns momentos do dia
Pego-me de joelhos
Agradecendo os fados me dados
Como um reflexo do espelho.
Chorando. Às vezes não aguento
E tudo me parece oscilante.
E pode ser que tenha sido bom (estou aprendendo).
Estou aguardando a providência do tempo.