Vitória
A tristeza veio bater à porta do sonhador;
“Sou discípulo da alegria”, disse ele.
A dor também tentou feri-lo;
“Encontrarei conforto”, respondeu.
A dúvida cravou sua adaga no peito do pobre coitado;
“Alimentarei o meu coração com fé e esperança”.
O desespero cruzou sua estrada;
“Com coragem prosseguirei”, relutou.
O desalento chegou cedo com alguns raios de sol;
“Tem bom ânimo o meu espírito”, disse ao sorrir olhando pela janela.
A derrota projetou sua sombra sobre o seu abrigo;
“A vitória sempre é possível para os que pelejam o bom combate”, bradou.
O medo ingressou em suas batalhas,
“A perseverança será meu braço forte”, resistiu.
- Tua força poderá superar a tua fraqueza? – perguntaram-lhe;
“Meus atos responderão”, respondeu ele.
- Há uma guerra em que deves lutar – disseram-lhe;
“Meu coração é pacífico”, retorquiu.
A escuridão aproximou-se;
Mas seu sorriso pôde ser avistado devido à luz do seu espírito.
Ainda estava ele a sonhar quando a realidade lhe surpreendeu;
“Darei ao coração da vida um sonho digno de ser apreciado”, prometeu.
A fadiga sorriu quando o venceu numa batalha;
Porém, ele sorriu com ela e pensou: “Basta que eu descanse calmamente
Para encontrar forças que tu nunca poderás abalar”.
A ignorância ofereceu-lhe tugúrio;
“Muito obrigado”, disse ele. “A sabedoria já me providenciou uma morada”.
O vento soprou forte tentando derrubar-lhe presumindo alguma vulnerabilidade;
“Sou filho da natureza como tu és, e, por isso, resisto”, combateu.
- Aonde tu vais tão rapidamente? Tenho um leito preparado para ti – disse-lhe a monotonia;
“Agir”, replicou.
- Cala-te, não há nada o que dizer ao mundo – aconselhou o silêncio.
“Aquieta-te, apenas lhe permitirei minha companhia nos momentos necessários”.
- O quanto já perdeste na vida? – indagou uma alma desiludida.
“Não sei, apenas sei que muito já ganhei”.
- E o quanto já choraste, és capaz de dizer?
“Não, apenas digo que muito já sorri”.
- Tudo isso é possível, mesmo sendo tão pobre?
“É possível ser abastado de maravilhas e não se dar conta de tanta riqueza”.
A alma desiludida permaneceu em silêncio.
Um pouco após, disparou palavras acusadoras:
- Não sejas hipócrita, pois sei que muitas vezes caminhaste sob nuvens escuras.
“Entretanto, nunca me viste andar alegremente sob a luz de dias radiantes?”
- E as tardes solitárias em que teu espírito foi pungido sem ter quem o consolasse?
“Todas elas foram derrotadas pela força dos sorrisos maviosos que recebi”.
- Como podes se julgar um vencedor, sendo que muitos sabem que milhares
de vezes foste derrotado?
“Teus olhos são pequenos demais para avistarem todas as minhas conquistas”.
- Quanto a todos os erros que cometeste, acaso poderás corrigi-los?
“Talvez não, mas sempre poderei aprender com eles”.
- E o que pensas fazer com todos os planos não concretizados que se encontram em teu coração?
“Apenas mais um pouco de tempo. É preciso que eles sobrevivam para presenciar
as vitórias dos meus maiores sonhos”.
Derrotada, a alma desiludida partiu em silêncio.