SEM RIMA 253.- ... cantar, não cantarei ...
Maria José (em 07/07/2012 11:55) parece temer que mais eu não cante... Na verdade pouco canto já: cantava, hoje apenas escuto canções, como agora as galegas que me acompanham, e escrevo poemas que procuro adoçar com harmonia.
Acabo de ouvir, do grupo galego "Fuxan os ventos" ou "Fujam os ventos", a canção "Sementeira", cujas letra é de Luís Álvarez Pousa e
música de Xosé Luís Rivas Cruz. Diz:
Sementar sementarei,
loguinho de clarear,
enquanto no povo medre
um meninho, um velho e um cantar.
Um meninho rebuldeiro
que fale na língua mãe
que suba nos pexegueiros
a fruta verde a roubar.
Um velho que de conselhos
um rosto de fume e pão
que conte contos aos nenos
do cuco e do paspalhás.
Um cantar de redenção
um velho novo cantar,
que troque a desolação
num limpo e claro alvorejar.
Logo, deixai-me morrer,
entre dous regos, queimado,
quando veñan os sol-pores
dos homes esfamiados.
(Adaptei levemente a grafia da letra. Convido a escutá-la em
http://www.youtube.com/watch?v=EFpCNJmUX5w&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=kAnj-s427W4
Podem ver um concerto do "Fujam os ventos" em
http://www.youtube.com/watch?v=_IbZ4gg000U&feature=related )
Cara Maria José, caras recantistas,
"recantistos" caros também,
talvez esteja a cantar em poemas,
embora o som fique embutido
na letra e apenas o coração
seja quem de escutar melodia
e chamamentos de chamas gritantes
e invocações à esperança, pelo menos à esperança...
Cantar, não cantarei: já canto
ao meu jeito como sussurrando preces
aos ouvidos das gentes que lerem e gostarem
dos meus textos (ou que não os detestarem... pelo menos).
Canto por necessidade ou tal imagino:
Canto à poesia com poesia ou tal me parece:
Canto à rosa e à Rosa, ambas sublimes,
ainda que (desculpem) prefira a minha Rosa
(mesmo quando não diga "Rosa" e só floresça
no verso, justamente nesse, a palavra "mulher"):
Canto à Galiza, Terra da (minha) Rosa e de meus filhos
e Terra de tantos bons amigos e doutros menos...
mas todos (ou quase todos) galegos de bom coração.
Canto à Lusofonia, filha ou descendência da Galiza,
se bem por vezes não o reconheça... (por vezes muitas!)
Não me esquecem nos meus cantos à Humanidade
porquanto ainda sou humano e nada humano
devo julgar alheio à minha existência e aos meus atos...
Não cantarei, continuo a cantar... sub-reptício mas não surdo.