Viagem de trem
“Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
— Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.”
Manuel Bandeira
Morte não é real
É uma viagem de trem rumo às férias
Infinitas, curtas, prolongadas, nada, tudo, sei lá.
Só você, seu eu e mais nada e mais tudo.
Você embarca, acena
Acenamos para você com lágrimas nas mãos
O trem é engolido devagar pela primeira curva
A saudade é hóspede de nossos corações.
Rezamos por uma boa viagem
É nossa responsabilidade e sinceridade
Invocamos puras orações exaladas do peito choroso
Desejamos boa viagem e breve regresso.
A saudade nos excita
Tira o sono, a fome, a cor, mas excita
Sentimos necessidade, desejo, urgência
De você entre nós, apenas de você.
Vamos à estação
O trem chega, muitos entram
Ninguém sai, ninguém entrega sua carta
Você não vem, não é?
Mas esperamos mesmo assim
Enquanto você não vem, nos alimentamos
O prato principal: agradáveis lembranças
A sobremesa: você em nossos corações.