Poesia parida
Eu sinto essa dor
O parto difícil
Do filho que não pode esperar mais
Abro a janela
Dou de cara com o concreto
O horizonte interrompido
Enquanto eu dormia...
Sinto-me naufragado nesse mundo seco
A boca cheia de terra árida...
e sangue.
Sou deste mundo
Sou este mundo
É nele que meu filho se inquieta...
Algo me dói...
Queima dentro,
Corrói
Força a saída...
Punge.
Não fugi à luta
Abraço o concreto
Massacrado, subjugado
Cheio...
Não sou o único que está só
A humanidade inteira é solidão
Os dias parecem cair como bombas
Abalando nossos precários alicerces
Algo subverte a ordem
Um girassol brota nas frestas do asfalto escaldante
A ele vejo da minha janela
Nele sorri meu horizonte,
Meu filho nasce...
A dor morre no meu silêncio.