Empregado em filas

Apenas o sol escaldante minha proposta aceitou

e o salário é a queima de meus sonhos

que ainda crescem ao calcorrear dias tristonhos

semeando lágrimas desnutridas que ninguém sequer notou

Avenidas agora minhas amigas são

mas dão a uma fila onde o primeiro emprego

é a certeza imediata de que o currículo é tão cego

como o padeiro que em vez do sim diz não

Até a lojista de mim escondeu o coração

mas a procura pelo pão-nosso é infinita na fila

e o zé-ninguém que há em mim não vacila

e canta coragem por entre milhares que anseiam por balcão

Nas avenidas do primeiro emprego ninguém desiste

nem mesmo nas filas que chegam ao céu

e de lá voltam rostos conformados pelo despiste

de currículos esquecidos no dia que amanheceu

Meus dias são como estradas com idas e voltas

atrás de necessidades que se acumulam como nuvens

e em ziguezagues me transportam em vaivéns

e vejo finalmente quem contra mim encerra portas…

Benguela, 1/11/2004

Nkazevy
Enviado por Nkazevy em 23/07/2005
Reeditado em 27/08/2014
Código do texto: T36958
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