Empregado em filas
Apenas o sol escaldante minha proposta aceitou
e o salário é a queima de meus sonhos
que ainda crescem ao calcorrear dias tristonhos
semeando lágrimas desnutridas que ninguém sequer notou
Avenidas agora minhas amigas são
mas dão a uma fila onde o primeiro emprego
é a certeza imediata de que o currículo é tão cego
como o padeiro que em vez do sim diz não
Até a lojista de mim escondeu o coração
mas a procura pelo pão-nosso é infinita na fila
e o zé-ninguém que há em mim não vacila
e canta coragem por entre milhares que anseiam por balcão
Nas avenidas do primeiro emprego ninguém desiste
nem mesmo nas filas que chegam ao céu
e de lá voltam rostos conformados pelo despiste
de currículos esquecidos no dia que amanheceu
Meus dias são como estradas com idas e voltas
atrás de necessidades que se acumulam como nuvens
e em ziguezagues me transportam em vaivéns
e vejo finalmente quem contra mim encerra portas…
Benguela, 1/11/2004