leitura do desespero
Não importa se falar às paredes
Desde que elas, tenham ouvidos;
Que os oblíquos clamores da sede,
Ecoem na fonte, sejam respondidos...
Agora, quando a parede está surda,
E uma venda tapa certo par de olhos;
Seria apenas uma empresa absurda,
Querendo vindimar entre os abrolhos...
Sei que ainda valem, falas pretéritas,
Pois, falando escreve-se no coração;
meus discursos idos, filhos de véritas,*
transportam um poder de persuasão...
O tempo indiferente passando veloz,
E queimo meu óleo sem ganhar frete;
solidão acossa, dura como casa de noz,
Ao menos aquela, a amêndoa promete...
Pensativo e recostado no travesseiro,
Assalta-me uma conclusão como essa;
Que bem lá no fundo esse desespero,
É apenas, minha esperança com pressa...
*verdade em latim