Os Sem-Terras

Havia tanta poeira naquela estrada

Que o sol poente parecia um brasão

Pendurado numa moldura, do inferno.

Não havia como falar sem tossir e se engasgar

E a cerca ao lado da estrada

Parecia uma reta rumo a um destino sem fim

Havia tanto cansaço naqueles corpos mal vestidos

Que os passos pareciam não deixar pegadas pelo chão

Não havia como dar banhos nas crianças

Se nem água havia mais para beber.

E a estrada parecia uma reta rumo a um sonho coletivo

Como único caminho para sobreviver.

Havia mesmo assim tanta esperança naqueles olhos

Que os castanhos e azuis pareciam um verde único

Não havia como cantar as canções das colheitas

E nem correr pela liberdade dos campos

E se encantar com as flores silvestres

E o dia parecia nunca acabar

Como se nele tudo tivesse que terminar

Havia por isso tanta pressa de chegar

Naqueles pensamentos

Que o que foi deixado para trás

Pareciam apenas folhas secas levadas ao vento

Não havia como voltar

Para onde as máquinas

Tinham até olhos de fogo na escuridão

E os fazendeiros parecendo Senhores Feudais

Colocaram as toscas moradas ao chão

Havia sentimentos naqueles corações fugitivos

Que amantes eram do céu das estrelas e do luar do sertão

Não havia mais como resistir ao novo patrão

Que armado até os dentes os expulsou

Feito gente sem terra para viver

Quando a noite chegou

Com a lua por dentre os montes

A poeira baixou e

Alguma coisa mudou

Havia uma brisa fresca no ar

Que fez os seus peitos estufarem

E até o cansaço passar

E os sem terra apressaram o seus passos

Chegaram a um enorme rio

O maior que já se viu

E sem saber de onde alguém gritou com todas as suas forças

Abençoai-nos São Francisco!!!

E por ali o Nome ficou

E com terras irrigadas nova vida se criou

Havia tanta água naquele rio

Que o sol parecia uma luz

Vindo das entranhas das águas

Refletida no céu Poente

Não havia como olhar para esta nova vida

Sem agradecer Ao Bom Deus!

Mas o retirante hoje se voltasse

Se ajoelharia e beijaria novamente aquele chão

Lá longe além dos montes

Que o viu nascer e as espigas colher

Robertson
Enviado por Robertson em 13/04/2012
Reeditado em 26/04/2012
Código do texto: T3610656