Canto à vida

Que seja eu a recolher

o primeiro perdão

na madrugada do teu rosto

na hora em que o galo cante.

Que haja um orvalho perfumado no jardim

e alguns seres alados

quando o sol se espreguiçar no horizonte.

Que as uvas formem mananciais

à cálices divinais.

E que as maçãs sejam sempre

as doçuras do céu

para todos os homens.

Que a espera da marcha das horas

seja absolutamente sagrada.

E que haja no ar um riso de meninada

e no rosto, um brilho de eternidade.

Que uma possível lágrima

seja considerada dádiva

e que escorra pela face

antes do anoitecer.

Que, quando acesa a chama,

à mesa, ponham-se todos,

mãos postas ao firmamento

cujo manto cobre o alimento

e dá força às costas.

E que no assoalho interior

dobrem-se joelhos de amor

a quem te deu o direito

de mais um dia viver.

(Direitos autorais reservados. Da série “Ventos e Cantos”, Rio de Janeiro, 1990)

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 26/01/2007
Reeditado em 03/06/2011
Código do texto: T359326
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