JANELA ABERTA
Não pretendo usurpar asas alheias
nem tão pouco a prata de um sorriso.
Nem violar as matas de castos olhos
e nem macular o lhano onde coabito.
Quero janelas abertas onde o límpido dorme,
a tênue linha que o horizonte não define,
o mel que lacrimeja da órbita do mundo,
os nutrientes que abasta os sentidos.
Não quero o sono, nem o sonho
nem o tempo, nem o espaço previsível.
Só desejo despertar o epiciclo adormecido
e fazer os meus passos de aços visíveis.
Não necessito de colheita em abundância
nem de ingerir doses letais de silenciosas palavras.
Só desejo o hertz do fruto esperança,
apenas a frequência cíclica das minhas lavas.