NÃO HÁ
POEMA:
NÃO HÁ
“Proibir é despertar o desejo”
Michel de Montaigne
Isso apenas será mais instigante,
Pois quando você me esquece de ter você,
Cada vez mais me despertas o ânimo e o espírito de tê-la.
Isso não me fará desistir do cômodo prazer de te amar;
E sim me fará te amar mais para te ter.
Até porque não faço questão de tê-la para amá-la;
Faço questão de amar-te para tê-la.
Ora...,
Não há um só não que não se despedace
Diante do sincero desejo do sim
Não há uma só solidão que vomite com enjôoo
o inevitável desejo de ter sempre para sempre você
Não há saudades solitárias:
Saudade é o mútuo sentimento do que está perdido.
Já não há o perdido, ânsia do reencontro.
A pura ilusão do que é nosso sem ser nosso
Não há um só desprezo que não leve à loucura
Diante da triste amargura de ser pisoteado
Pelo não alheio de quem despreza seu afeto,
Pelo sim sincero do seu amor chicoteado
Já não há mais nada quando nada mais pode ser.
Já não há mais nada quando não há fracasso.
Há uma hora que é impossível ser discreto,
Hora fraca do nosso calmo cansaço...
Do corpo
Da mente
Da alma (se é que existe)
Por isso...,
Não há um só orgulho que não se ajoelhe aos pés da carência,
embora tarde seja muito tarde
Sinta
Clame
Se entregue
Chore
Se levante
Se erga
Pois será inevitável não chorar novamente...
Não há amor onde nunca possa haver o desespero das saudades,
assim como não há saudades onde nunca possa haver
a dolorosa esperança de haver o reencontro
É doloroso, mas nada existe quando nada pode haver,
nem nada é quando nunca há.
Quando o nunca é nunca na esperança de ser para sempre...
É doloroso.