PÁSSARO DE FOGO
Passeio por uma rua sem calçadas,
Onde não há margens, nem casas, nem alameda.
Os homens são máquinas,
E os brinquedos cospem fogo.
Vejo um jardim sem flores
E pedaços de madeira crescem a todo o momento.
E um rubro rio se fana;
E em seu leito pessoas choram.
Embaixo de uma árvore que não existe mais
Brincam crianças invisíveis.
E no céu, cometas passam sem parar:
Caem estrelas no chão.
Encontro uma senhora chamada ignorância
Que me diz que este lugar se chama sofreguidão,
E que foi uma tal ganância
Que projetou cada linha desse perímetro.
Do lado da desesperança
Vejo outra que me diz o contrário:
Onde há lugar para atrocidades,
Poderia haver encontros de amigos.
Pois, depois de apagado o último brilho,
Todos são iguais em qualquer canto.
É bem melhor caminhar por um tapete de flores,
E conjugar o verbo amar.
Não ser um fraco
Por não querer abraçar o mundo.
Mas ser um forte
Por conseguir abraçar alguém do lado.
Toda riqueza que almejas
Não conseguirá levar contigo.
Mas cada bom gesto
Permanecerá como a própria chama
Que alimenta o pássaro de fogo.