SOU CARNE E OSSO
DE PESCOÇO,
MOÇO DURO DE ROER.
SOU DURO NA
QUE É DA PEDRA QUE HAVIA NO CAMINHO ?
CHUTEI AS LÂNDRIAS DA ROCHA ADORMECIDA.
ESPATIFOU-SE EM PEDACINHOS.
ACABOU-SE O QUE ERA DOCE !
MUDEI O MUNDO DRUMMONDIANO.
VEJO POETAS ENFURECIDOS.
PEDRA, PRA QUE TE QUERO
?...
LAR, DÓ, SI, LÁ !
BOA ROMARIA FAZ QUEM SUJA A CASA
E ESTÁ EM PAZ
NA TERRA TAMBÉM AOS DE MÁ...
VONTADE DE FICAR, MAS TENDO QUE IR...
EMBORA,
NÃO, NÃO, NÃO VÁ
LAVAR AS MINHAS MÃOS,
FERIDAS DE TANTO FERIR
IRMÃOS.
O CORPO ALQUEBRADO.
TRAZ-ME UM CHÁ!
DE QUEBRA-PEDRAS?
NÃO ! ! !
DELEITO-ME NA CAMA,
DE PERNAS PRO AR :
NINGUÉM É DE PEDRA !
PÉS SUJOS DE LAMA
E SEMPRE DESNUDOS,
CHOVA OU FAÇA SOL,
SUJAM O LENÇOL.
ÁGUA LAVA, LAVA LÍNGUA,
MAS NÃO LAVA TUDO...
NÃO LAVA MAIS A PEDRA DURA.
BATE E REBATE,
E MEU GOLE OU CHUTE
BATE-BATE É QUE FURA !
FURA-BUCHO, FURA-CAMISA,
FURA-VIDA, FURA A AÇÃO...
FURA A PELE DILACERADA,
COSTURADA À MÃO,
PONTO A PONTO.
UM PONTO PRA CADA CONTO.
QUEM CONTA UM CONTO...
É MACHADO,
ACHADO ASSISADO NUMA CONSTELAÇÃO.
CÃO MAIOR, CÃO MENOR...
NÃO SEI DE COR !
UM CÃO COM NOME DE CRISTÃO,
QUE NÃO LADRA.
CÃO QUE LADRA, NÃO MORDE !
QUEM SABE,
NUMA ESTRELA QUE SACODE
A CAUDA !...
FURA A AÇÃO ?
NÃO!
EU LI FURACÃO !!!...
CORRE PRO MATO,
PEGA O ATALHO !...
CAUDA MACACO NO SEU GALHO !
GALHOFO DO ESPELHO
QUE ME FAZ GRISALHO.
PASSOU O MEU TEMPO DE ÓCIO.
SEJA COMO FOR,
VIVER É BOM NEGÓCIO.
NEGÓCIO É NEGÓCIO,
ESPELHOS E AMIGOS SE APARTEM !
MAS, CACOS ME MORDAM
SE NÃO FOR VERDADE.
UM BRADO !...
QUE BRADO ?!...
RETUMBANTE, O ESPELHO VIROU
CONTO DE TERROR !
UM SÓ CACO REFAZ
O TODO QUE SE ESPEDAÇA,
FAZ CRESCER MINHA VAIDADE
OU MINHA DESGRAÇA.
E AINDA REFLETE DIGNIDADE:
« SOU O ESPELHO TEU,
EXISTE ALGUÉM MAIS HONESTO DO QUE EU ?»
NÃO LHE RESPONDO
E A PELE E MEUS PELOS ESCONDO.
TOCOU NA MINHA FERIDA :
PELE E ALMA ENFRAQUECIDAS.
PELE SIM, PELO NÃO,
VEM A IMAGINAÇÃO, USO A CABEÇA.
PRA CABEÇA OCA, QUALQUER DESGRAÇA
É POUCA.
ÉPOCA DE TESTAR
O FRAGMENTADO ESPELHO :
VIDRO-MOLE EM CABEÇA DURA,
TANTO BATE ATÉ QUE FURA.
FURA A TESTA,
O SUPERCÍLIO, A FORMOSURA.
NAVALHA NA CARA DA MINHA JUVENTUDE.
FIZ O QUE PUDE.
FINDA A FESTA.
TUDO QUE NÃO TEM FIM
É VIRTUDE, É MISTÉRIO OU É RUIM !...
QUANTO DEUS DARÁ POR MIM?
E ESSE PEDACINHO INDIVISO,
REFLEXIVO,
OLHO NO OLHO,
OLHANDO SISUDO PRA MIM.
ENFIM, O FIM DA FORMOSURA
E
DA MINHA BRAVURA.
É QUE DELE OUVI UM
CONSELHO
(FOSSE BOM SE VENDIA) :
« CRIA JUÍZO,
VIVER, SIM, É QUE É PRECISO ».
« QUANTO MAIS ME QUEBRAS, MAIS SOBREVIVO ! »
< E TUA SOBREVIVÊNCIA DEPENDE DE MIM >
VI-ME, NOVAMENTE,
NO MENOR FRAGMENTO OBSTINADO
DO ESPELHO QUEBRADO
E OUVI DO CORO DOS CACOS
UM VOZEAR PERTINENTE :
« TU INSISTES (EM NOS OLHAR), LOGO EXISTES ! »
DESCARTO DESCARTES,
RENEGO AS FILOSOFICES
E A TUDO NEGO,
NÃO ME ENTREGO.
SEI QUE ESTOU UM TRAPO,
PREGUEADO DE ESPARADRAPO.
AÍ, CARA AMARRADA,
AMARRO UMA GRAVATA NO PESCOÇO.
AGRADA-ME O TRAJE,
PORQUE O ULTRAJE FAZ O MONGE.
AGORA, COM OUTRA IMAGEM,
FICO A DIVAGAR :
É MESMO DEVAGAR QUE SE VAI LONGE ?
E ME VEJO, AGORA, TÃO PERTO !...
- VELHO MOÇO -
MAS O ESPELHO NÃO MENTE.
EMUDECE, PREGUIÇOSO.
OUÇO:
"QUEM EM MUITAS PEDRAS BOLE,
UMA LHE CAI NA..."
»CABEÇA NÃO PENSA, CORPO É QUEM PADECE».
OBEDECE, OBEDECE !
SÃO OS APELOS DA PELE
E DOS PELOS
ESCONDIDOS SOB OS EMPLASTROS
E O MANTO QUE ME REVESTE:
«TU CONTINUAS CARNE E OSSO.
JÁ NEM PRECISAS DE ESPELHO !
SOMENTE NÓS VAMOS TE MOSTRAR
(OU TE ENGANAR)
SE ESTÁS MAIS MOÇO OU MAIS VELHO».
MAS, MINHA PELE E AS CÃS
ME ENTRISTECEM TODAS AS MANHÃS.
SE SEGURO MORREU DE VELHO,
VOU SEGURANDO A VIDA.
HÁ VIDA, ENQUANTO HÁ ESPERANÇA.
DAREI TEMPO AO TEMPO
ADERINDO ÀS MÁGICAS E ÀS PLÁSTICAS.
AINDA ME ESPERO, MAS NÃO ME RENDO
ENQUANTO ESTIVER ME VENDO:
QUEM ME ESPERA SEMPRE ALCANÇA
E, SE ME RENDE, LOGO APRENDE :
SER HUMANO É MUTÁVEL,
OSCILANTE, VULNERÁVEL,
ENVELHECÍVEL, DESDE A INFÂNCIA.
TUDO QUE EM SI MODELE,
A NATUREZA NÃO REPELE,
LOGO SE DEFENDE
E NÃO RECLAMA.
. PRA FRENTE É QUE SE AMA ! . . .
(Fernando A Freire)
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Para subsidiar eventuais comentários, o autor informa que, direta ou indiretamente, inseriu fragmentos de obras dos seguintes Mestres da escrita: Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis, Ovídio ("A Arte de Amar", escrito em latim 43 anos a.C.), René Descartes e Luis Vaz de Camões.
Enfoca a trajetória do indivíduo, desde a juventude (atleta e imortal), passando pela fase adulta de intenso aprendizado (ver provérbios e trocadilhos) até o último período da universidade da vida (fase da autocrítica e do aconselhamento).
Agradece.
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INTERAÇÃO DE LINGUAGEM POÉTICA
02/03/2012
Poetisa Adria Comparini
Voltei para ler novamente e ver as alterações!
Continua muito interessante!
"O amor junta os pedaços,
quando o coração se quebra,
mesmo que seja de aço,
mesmo que seja de pedra..."
(Ivan Lins)
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