Querido Bobby
“Dedicado a todos os quase mil jovens que se suicidaram no ano passado no Brasil por causa da indiferença. “
Antes de anoitecer completamente diga-me sua verdade
E quando o pranto se espalhar poderei seguir seu perfume
Não posso te ver na escuridão, apenas sentir no meu coração.
Perdi teu toque, o brilho de seu olhar e o sorriso iluminado de um anjo
Minhas palavras feriram sua alma, reduziram seus valores. Fizeram-te chorar quando tinhas medo, se fechar como um casulo. Nas conversas adiadas, os gritos ecoam. E para sempre terás alguns poucos anos.
Nunca mais entrarás por aquela porta, e não ouvirei sua voz chamar meu nome. E lá fora sempre te verei em outros meninos e dormirei pensando se seus pais sabem o quanto são importantes antes que os percam, antes que os façam se sentir sujos pela cegueira de seus olhos e prefiram escolher pontes para voar e vez do céu, cordas nos pescoços e comprimidos espalhados no vazio de um quarto frio.
Você não mudou seus sentimentos ainda eram os mesmos. Sua solidão se tornou maior. Percebi tarde demais que ao me contares sobre sua sexualidade, me destes a demosntração de amor mais forte do mundo. Eu não te abracei e fiz você pensar que nunca mais terias o carinho e ternura de antes. Apaguei sua alegria, querendo esconder minha vergonha, vivo fostes enterrado distante dos sonhos que amavas.
De nada adiantou minha fé cega e palavras ditas sem sentido, quando recebi seu corpo dentro de um caixão lacrado. Ali estava o menino que amamentei e tantas vezes em meu colo esteve brincando inocentemente com meus cabelos com suas mãos puras. Ali estava você com a mesma pureza, com o mesmo coração! Enquanto quem precisava se curar da doença, do preconceito era eu.
A vida já é difícil por si própria e quando tornamos o mundo ainda pior, qual é o sentido de nos acharmos melhores quando usamos nossas vozes para condenar a quem já vive dilemas e sofre por achar que todos serão inimigos de suas escolhas. Nunca saberemos que tipo de pessoas se tornarão os que escolheram pontes, cordas e comprimidos. Mais podemos saber o quanto somos desumanos quando julgamos por acreditar no ridículo do certo que é diminuir uma pessoa por causa do seu sexo e de sua maneira de viver. O amor sempre deveria vencer no final, independente do tipo de amor. *de A.L.
De Mary Griffith mãe de Bobby Griffith em 1983:
“A homossexualidade é um pecado. Os homossexuais estão condenados a passar a eternidade no inferno. Se quiserem mudar, poderiam ser curados de seus hábitos malignos. Se desviassem da tentação, poderiam ser normais de novo. Se ao menos eles tentassem e tentassem com mais afinco, talvez isso funcionasse!
Estas foram às coisas que eu disse ao meu filho, Bobby, quando descobri que era gay. Quando ele me disse que era homossexual, meu mundo desmoronou. Eu fiz tudo que pude para curá-lo de sua doença. Há oito messes atrás, meu filho pulou de um viaduto e se matou. Eu me arrependo profundamente da minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Vejo que tudo o que me ensinaram e disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse investigado além do que me disseram, se eu tivesse simplesmente ouvido meu filho quando ele me abriu o coração, não estaria aqui hoje, com vocês, cheia de arrependimento. Eu acredito, que Deus estava contente com o espírito gentil e amável do Bobby.
Aos olhos de Deus, gentileza e amor é tudo que importa. Eu não sabia que cada vez que eu ecoava a condenação eterna aos gays, cada vez que eu me referia ao Bobby como doente e pervertido, e perigoso às nossas crianças a sua auto- estima, os seus próprios valores, estavam sendo destruídos. E finalmente, seu espírito se quebrou para além de qualquer concerto.
Não era o desejo de Deus que Bobby se debruçasse sobre o muro de uma ponte, e pulasse diretamente na frente de um caminhão de dezoito rodas que o matou instantaneamente. A morte de Bobby foi o resultado direto da ignorância e do medo dos seus pais quanto à palavra gay. Ele queria ser escritor. Suas esperanças e sonhos não deviam ter sido tiradas dele, mas foram.
Há crianças como o Bobby, sentada nas suas congregações. Desconhecidas de vocês, elas estarão escutando, enquanto vocês ecoam “Amém”. E isso depressa, silenciará as suas preces. As suas preces a Deus, por compreensão, e aceitação, e pelo amor de vocês. Mas o seu ódio, e medo e ignorância da palavra “gay”, irão silenciar essas preces. Por isso antes de ecoarem “Amém”, na sua casa e local de adoração, pensem! Pensem e lembrem-se: uma criança está ouvindo. “