OPACO
Quero, meu Deus, um sufrágio
No recôndito do meu régio desejo.
E, com a seda do meu adágio
Vou tecer apenas meu dia com um ensejo.
Se perder a hora da minha virtude
Não quero ser jogado com a âncora
Que afunda a coragem em quietude,
Só saciar-me com a água da ânfora.
No alvitre da malograda hora
Quero retirar minha altivez serena
E quando cada lapso de demora
Falhar, quero uma vitória amena.
Seria o amor só legítimo e inefável
Quando não costumo ser valente?
Não. O amor sempre me é afável
Mesmo quando não estou contente.
Sou menos sapiente e mais verdadeiro
E as estrelas me são testemunhas fiéis
Em cada constelação que me faz herdeiro
Da pintura no resto de tinta dos pincéis.