OPACO

Quero, meu Deus, um sufrágio

No recôndito do meu régio desejo.

E, com a seda do meu adágio

Vou tecer apenas meu dia com um ensejo.

Se perder a hora da minha virtude

Não quero ser jogado com a âncora

Que afunda a coragem em quietude,

Só saciar-me com a água da ânfora.

No alvitre da malograda hora

Quero retirar minha altivez serena

E quando cada lapso de demora

Falhar, quero uma vitória amena.

Seria o amor só legítimo e inefável

Quando não costumo ser valente?

Não. O amor sempre me é afável

Mesmo quando não estou contente.

Sou menos sapiente e mais verdadeiro

E as estrelas me são testemunhas fiéis

Em cada constelação que me faz herdeiro

Da pintura no resto de tinta dos pincéis.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 14/01/2007
Código do texto: T346790