O PEIXE DOS ABISMOS(de "O Plasma")

Eu sou

como um peixe dos Abismos,

envolvido

pela negra escuridão,

respirando pelas guelras sufocadas,

solitário,

a não ser

pelas algas e corais

incrustados nas rígidas rochas.

Se alguma luz me ilumina,

é a minha.

Único brilho

dentro das cavernas,

um foco impreciso,

fantasmagórico e irreal,

inútil fosforescência desesperada

dos ossos flácidos

que sustentam pele

e escamas.

Sonho.

Que sou o Rei destas profundezas.

Uma voz borbulhante me interpela

e zomba.

Na Escuridão não há reis,

apenas sombras.

Rio.

Não posso chorar.

Conto o tempo

nas ostras desfiadas

e venho à superfície.

Os homens pálidos me recebem

com sorrisos pálidos.

Então vou á praia

e vejo o Sol.

Embebedo-me em sua luz

e vôo alto

e depois rasante,

junto às ondas.

Como elas,

eu compreendo

a Imortalidade.