Coração preguiçoso

Certo dia eu não quis morrer vivendo

e senti no peito o coração querendo,

sem fôlego indo-se,

como se o poeta tivesse que virar poeira.

E os meus versos, quem os cuidaria?

e um morto coração no peito, cansado de bater direito, adoecia,

deixando um poeta entre o verso e a vida.

Senti que a vida ia e, triste, chorei caçando o fôlego,

feito barco sem cais, pássaro sem asas, amor sem dono,

o fim de tudo, cheiro de abandono.

Rebateu o coração, reviveu o poeta,

os versos acharam tempo para dormir

e o tempo de surgir os escondeu,

tive no peito um coração achado novamente

e voltei a viver diferente: no peito agora um preguiçoso coração de vidro.

Quase morri!