À Solano Trindade
Sou nego
...Na minha alma ficou
o Samba
o Batuque
o bamboleio
e o desejo de Libertação.
Poeta Branco.
Sou um poeta Branco
Livre da vergonha da história
Pois jamais vi amanhecer
Que não fosse azul
Tampouco por de sol que não fosse
Espetacularmente laranja avermelhado
Jamais houve cores que gritassem
Tanto em meu olhar
E este grito, sempre foi-me liberdade.
Ha sim, na ferrugem que corrói
o aço dos grilhões, o tom terracota
Que o próprio chão benevolente engole
Como engole, o branco, o negro, o mameluco
E toda gente que pisa feroz sobre ele,
também os que pisam ternamente.
E sabem-se então livres
Com alma leve, sendo seus próprio senhores
Cativo em poesias e do chão
que na exuberância de seus pastos
Á todos concede o mesmo fruto
Não mais filhos bastardos desta Pátria
Mas semeadores de arco iris
E então até que não mais seja vergonha
Falar de amor, nem de igualdade
Direi então que sou um poeta branco
Porém, minhas mãos jamais tingidas
Do sangue dos meus irmãos
No passado escravizados.
Afirmo, pois, que deste sangue e destas lágrimas
É que rego as camélias que ofereço
em meus versos miscigenados .
Cristhina Rangel.