Que eu seja Eu

Olho para a lua,

Vejo você.

Olho para o mar,

Vejo você.

Olho para os outros e vejo você.

Não consigo.

Grito. Choro. Fujo.

Mas o principal não consigo:

Esquecer você.

Você está em mim como o ar que respiro.

Nos cheiros, nos toques, nas vozes,

Nas minhas lembranças.

Você está em mim

Você está nesse papel,

Na tinta dessa caneta,

Em cada letra dessas palavras,

Em cada verso,

Em cada vírgula,

Em cada ponto.

Menos no ponto final.

Por quê?

Por quê?

Nas músicas que ouço

Vejo você.

Nos filmes que assisto

Vejo você.

Nos lugares que vou

Ali você está,

Pois vejo você.

Como? Por quê?

Você é o meu leite derramado,

O passado.

Você é a fotografia engavetada,

O meu silêncio.

Vejo você, mas você não está aqui.

Você é o meu verbo poético – perder

E o meu tempo verbal que se foi.

Se foi. Não está aqui.

Quero ser a rosa desabrochada de um novo jardim.

Quero ser o luar de uma nova noite.

Quero ser a poesia de uma nova composição.

Quero ser Eu

No que é somente Meu – o presente.

Quero ser o ABC,

Mas não quero ser Regra.

Quero ser Criação,

Mas não Imitação.

Reconhecer o novo dia,

Eu quero.

Ouvir novos passos,

Eu quero.

Enxergar novos horizontes,

Eu quero.

Se tem sentido ou não,

Não importa.

Eu quero olhar para a lua,

E ver a lua.

Eu quero olhar para o mar,

E ver o mar.

Eu quero olhar para os outros

E ver os outros.

Eu quero Gritar. Sorrir. Sonhar.

Quero criar, compor, inventar.

Eu quero escrever,

Mas não quero escrever você.

Você não está aqui

E eu sei.

Mas eu estou aqui.

E os outros sabem.

Quero apenas cantar, dançar, tocar,

E até atuar

Mas na minha mais completa verdade.

A verdade que não machuca,

Não chora,

Não perturba.

Apenas transborda.

O lírico dos lírios do meu eu-lirico.

Os meus olhos

O meu sorriso.

O belo.

Pois eu aprendi

Que vejo você sim,

Mas você não está aqui,

Está em mim,

Está no que eu vivi,

No que eu senti.

Sim,

O “passado esteve aqui”,

Mas passou.

Tomou o rumo da correnteza do rio

Que não é Amazonas,

Mas é coração de um mundo.

Que aprende a cada despertar,

A cada tentativa,

A cada escolha,

A cada grande descoberta.

Aprende e apreende

Que olhos fechados

Veem o escuro;

Batidas desaceleradas

Diminuem a cada passo;

E a rosa desabrochada

Fecha-se,

E como uma vela,

Apaga-se.

Mas a chama, a vida, a oportunidade

São fênix

E as cinzas do ontem

São lições hoje.

Que eu seja a borboleta,

O girassol,

Que eu seja o arco-íris.

Seja o sol.

Que eu seja Eu

De Norte a Sul.

Uiara Aimê Sou Poeta Menor
Enviado por Uiara Aimê Sou Poeta Menor em 15/11/2011
Reeditado em 21/02/2014
Código do texto: T3337806
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