Escorrida

Vida escorrida,

do relógio caída

sem outra parede

em que se segurar.

Pinga uma

chuva insistente.

Fina como os fios

em que me seguro.

Incerta como o Futuro.

O cinza de ontem

repete-se no Céu

que pouco se ilumina.

Alguém haverá

de blasfemar

e outrém se resignará

cônscio da marionete

que a vida lhe fez

nesse teatro

de fantoches

em que a liberdade

é só um deboche.

Mas escorrido do relógio

eis que nasce

o novo dia.

Alguma calma

vem a reboque

e, talvez, no

último carro

chegue alguma

Esperança.

Oxalá a brisa do Mar

faça uma moça suspirar;

à outra faça sonhar.

E aos demais, delirar.