AO VENTO
Sendo e vendo temo o tempo
Crendo e tendo não contento
Vez ou outra inda tento
Sem sentido olho o vento.
Busco a cura pro sentimento,
Ouço vozes e sofrimento
Sussurros mudos de tormento,
Não sei até quando ainda agüento.
Seja eterno, ou seja momento
É perturbador, é peçonhento
É feroz, sanguinolento
Devorador de paz, um eu detento.
Algo crescente, avarento
Sem forma ou cheiro, mas nojento
Não deixa esperança, agorento
Não sente culpa, fere alma adentro
Nunca morre, não se sabe seu nascimento
Não acaba em mim, mas continua sendo
Terrível mal, se não acordado, no máximo adormecendo
Esperando outra vítima, pro seu tormento.