Pretenssão
Quando a noite voltar amanhã
Terei eu aproveitado o dia e a madrugada
Levantado bêbados morimbundos na calçada
Ter visto o nascer do sol pela manhã
Apagado a luz quando o dia apontou
Caminhado à pia para lavar os olhos que o sono não fechou
Comido a broa de milho amanhecida
Aguar as secas plantas outroras esquecidas
Lido o jornal de ontem que hoje nada mudou
Enviar a segunda carta que até agora resposta da primeira não chegou
Cumprimentar os velhos vizinhos que a situação os calou
Se na hora sagrada com fome eu estiver
Quero estender à mesa uma toalha toda rendada
Fazer uma oração antes de pegar no cabo da colher
Agradecer e rogar a Deus que de mim a comida não seja retirada
Neste dia não vou tomar o chá das cinco
Vou pegar o telefone mudo e dizer tudo que sinto
Ser apenas mais um sem saber do que será
Prever o que escrevo sem nunca me enganar
Para quem no futuro leia já mais me criticar