A Canção Mais Bela

Eu queria compor uma canção.

Uma canção bela, bela, tão bela

que mais bela fosse que minha vida.

Queria aproximá-la do mar e do ar e do amar.

Por onde anda? Onde está a canção mais bela?

Talvez pendendo caule, folhas e flor da primavera.

Reinventa-se perdida no verão que vem quente demais?

Será que ela vive nas árvores nuas e folhas caídas do outono?

Ou quem sabe se escondeu no inverno sulista de nosso país?

A canção mais bela foi quebrar as folhas nas músicas dos pés.

E o inverno quente dos edredons aquece meu corpo ardente.

Veio a mim todo o outono e me pus a pensar, a querer e a doer.

Assim a mistura das estações faz trança de flores em meus pés.

Tudo de tudo de mim, inclusive você, meu amor eminente.

A canção mais bela, que brinca de reinar em meu castelo,

liga-se pelos tempos que não se ligam e não se desprendem.

Porque todo o tempo se faz um na semente de quatro pés.

E vem a mim inteiro e brinca e canta minha canção mais bela

pra você que pode, enfim, morar dentro dela como o ar e o mar.

Neusa Azevedo
Enviado por Neusa Azevedo em 12/10/2011
Reeditado em 13/10/2011
Código do texto: T3272382