Uma Espécie de Tortura

Devo estar escrevendo o livro das horas.

No entanto, todos os minutos morrem.

Eu fico aqui, não sei por que escrevo.

Não sei por que me leio e releio.

Talvez na tentativa de passar meu ser

pelo reflexo das linhas que se preenchem.

Talvez eu queira endireitar meu corpo torto.

Quem sabe eu busque a sanidade,

qualquer coisa eu queira buscar, além de mim,

além do que posso tocar em mim.

Quero viajar além da pele.

Que meus dedos finquem minhas veias,

salvem minha alma, em mim,

enquanto há para viver.

Que eu me salgue, me adoce

na dor de ser eu mesma e

ter que inteiramente procurar

saber de mim em todo lugar:

no caos, no buraco, na sarjeta,

na dor, no sangue, na lágrima.

Até que num instante supremo a mim:

minha caneta escreva uma palavra

mágica de mágica de pular muros,

voar montanhas e alçar céus.

Neusa Azevedo
Enviado por Neusa Azevedo em 14/09/2011
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