Uma Espécie de Tortura
Devo estar escrevendo o livro das horas.
No entanto, todos os minutos morrem.
Eu fico aqui, não sei por que escrevo.
Não sei por que me leio e releio.
Talvez na tentativa de passar meu ser
pelo reflexo das linhas que se preenchem.
Talvez eu queira endireitar meu corpo torto.
Quem sabe eu busque a sanidade,
qualquer coisa eu queira buscar, além de mim,
além do que posso tocar em mim.
Quero viajar além da pele.
Que meus dedos finquem minhas veias,
salvem minha alma, em mim,
enquanto há para viver.
Que eu me salgue, me adoce
na dor de ser eu mesma e
ter que inteiramente procurar
saber de mim em todo lugar:
no caos, no buraco, na sarjeta,
na dor, no sangue, na lágrima.
Até que num instante supremo a mim:
minha caneta escreva uma palavra
mágica de mágica de pular muros,
voar montanhas e alçar céus.