Palavra
Palavra, teu nome é isca
Que vem e cisca
No tempo que eu procuro
E não encontro
No tempo meu
Pesco as idéias, os pensamentos
Nas noites mal dormidas
Quando eu rolo na cama
E não me conformo
Por não ter sonhado
Olho as paredes do meu quarto,
Abro as cortinas,
Deixo o ar entrar.
É como se ele tivesse
Cheiro de poesia
E nome de não sei bem o quê
Será que o ar
Tem nome de "PALAVRA?"
Ou será que a palavra tem nome de "AR?"
Ar que exala o perfume das flores
Ar que embala o seio das mães,
Que aflitas esperam
Seus filhos desabrochar
E a palavra soa: "TE AMO"
Será que a palavra tem nome de "SANGUE?"
Do povo que chora, que teme e se aflige,
Que perde o direito de ir e não sabe,
Se é cidadão e poderá voltar?
A palavra grita:"SOCORRO!"
Quero escrever, rabiscar o papel,
Deixar fluir o pensamento
Sair da abstração
Registrar o que sinto.
Passo a passo
Linha a linha
As idéias vão se entrelaçando
Como um balé
Mais uma dança, um toque, uma trança
Mais um café, um novo ato, um desacato
O tempo passa, eu não ligo
O relógio, testemunha do meu descaso
Denuncia meu tempo
Tempo que eu não tenho
No tempo meu
Quero escrever, quero buscar
Mas a palavra, onde está?
Será na isca
Que eu jogo no mar dos pensamentos meus?
Então, palavra, teu nome é esse?
Te encontro dor,
Te sinto amor
Te vejo anjo, a me guiar
Ecoa a dor do pobre
Que sente fome
E vira número
Nas cifras de quem se alimenta
Com essa triste sina
Mas ainda assim,
Quero crer, em meio a tantos nomes
Algum se há de encontar
Quem sabe alguém
Um dia enfim, no sorriso de uma criança
Possa descobrir que,
PALAVRA, teu nome deve ser
"ESPERANÇA"