ROTINEIRA DANÇA
A noite verseja estrelas
E o dia vai tecendo desfiando seus matizes
Cicatrizando com seus raios matutinos suas raízes
Orvalhando versos de bálsamos e desatinos
O negrume da madrugada fria em seus deslizes
Vai renascendo da noite num novo e cavernoso amanhecer
Os pássaros vão-se timidamente trinando
Se refazendo biologicamente, num reflexo condicionado
Moto contínuo, vão abrindo suas asas do ofício
Limpando-se com os bicos para singrarem
O azul celeste secular e imortal em rasantes
Ziguezagueares de contornos incoercíveis
O dia é iniludível com suas normas sinestésicas e essenciais
Tudo passa diante do sol sensorial
O tempo vai devorando diante das manhãs
Todos os entrantes
Todos os instantes
Todas as conversas vão se dissipando,
Todos os amantes vão-se dizimando
Todas as juras vão se dissonando
Novos amores se fazem...
A paz se refaz de seus pesares
E nada consegue modificar a escala do tempo
Tudo se ergue e morre diante do sol
Como num indiferente bocejo
Num lampejo tudo entre águias e percevejos
Vai se encerrando diante da criação!
Tudo e nada se confundem
Quem sabe ainda acordemos deste sono
Profundo... Desta triste inquietação.