Um menino canta o porvir

Como as mortes se sucedem

e parecem querer se superar,

dirão apocalípticos estes dias de angústia,

desesperança berrando nos cantos,

mãos arranhando o limo do não.

É de nós morrer um pouco na morte do outro,

mas o sofrimento abre janelas em nós.

Assim,

aclamaremos a luz, mesmo que fosca,

que se enreda no homem, desde que nasce.

Sorveremos a esperança, esta face do sempre possível,

servida nas taças do champanha humano.

Brindaremos ao sim, límpido e positivo,

virando as costas ao nunca e ao nada.

Abraçaremos a verdade de cada dia

bordada nas mãos que sempre acolhem.

Caminharemos entre amados e amigos

semeando nosso pensamento libertado.

E louvaremos, enfim, a vida, esta semente,

que medra onde querem solo gasto.