DIAGNÓSTICO E CURA - Tempo 1 e 2
DIAGNÓSTICO – TEMPO 1
Hipertrofia septal: nome esdrúxulo e sem graça
para se dar aos meus soluços contidos,
reprimidos, sufocados.
À parada cardíaca do meu coração
bem feito e desenhado.
Nome snob científico, elaborado,
que deram ao espanto angustioso
das revelações, da traição,
da maciça taquicardia do desamor,
da impotência e da dor de saber
que já não tenho mais o seu amor!...
Estreitamento e ponte,
quando passei de um lado da minha vida
para o outro, só, deserto, ermo,
abandonado, pequeno demais para conter
a angústia de sabê-lo longe, embora perto.
Enfarte do meu amor tão belo!
Sístole dos meus sonhos
que reduzidos a pó,
deixaram apenas pequenas pílulas de dor,
que tomarei por toda vida,
quando o lembro meu
E sei que não está só!!!
Fazer repouso
é apenas supostamente aquietar a dor
de estar sozinha!
Não passar por emoções! (ironia!)
Se meu corpo inteiro bate, pulsa, lateja,
como um só órgão doído, machucado,
Meu doloroso coração!
Buscaram no cateterismo
o que não se pode ver a olho nu.
Em minhas veias corre livremente a saudade.
Nada a fará estancar.....
Na ecografia ainda ressoa meu desespero!
Cada eco responde que se foi
o que me dava alegria e sossego de viver.
Cada artéria de meu corpo
pulsa e vibra de paixão.
Enfim, sofro a dor da ruptura na alma.
Cri ser eterno,
simplesmente teve fim. É morto!
Foi o colapso do amor com morte súbita!
O tempo passou...
E foi feito um transplante!
Tenho agora um coração novo e pronto.
A CURA – TEMPO 2
O tempo, médico de almas,
Transplantou em mim um coração eterno.
Renascendo na vida, não contarei o tempo
para encontrar um novo amor.
Farei as exéquias da minha idade
para encontrar, enfim a felicidade.
Não mais conto o tempo que tenho,
tem sempre alguém pra contá-lo!
E por conta da conta que se perdeu,
vivo todos os anos que tenho.
Se me deram, então são meus.
Um dia hão de parar a contagem
e passarei daqui à eternidade,
levando a grande vantagem
de ter vivido sem ter idade...
Vivo com o que sinto,
não com o que uma determinada
idade poderia dar-me.
E sinto o que vivo
com a mesma intensidade
de dez, vinte, trinta anos.
Se tombo, levanto.
Se vergo, não quebro.
Refaço caminhos,
piso desenganos
e vivo e vibro
(ah! como vibra
cada fibra de mim!)
E se o tempo desgasta
alguma parte do meu corpo,
como mutante,
refaço em outra a que se perdeu.
Reponho, reparo,
renovo, substituo
mas continuo vivendo.
Vivo sem sentir se há idade
ardente e apaixonadamente,
extravasando, excêntrica,
o meu eu
em pranto, em risos,
em emoção,
como se dentro em mim
coisa alguma houvesse,
a não ser um imenso, intenso,
redivivo e novo,
vibrante coração!
E reparto versos
como reparto um pão,
para que cada um tenha um pedaço de mim.
E repartindo-me, renovo-me
em cada parte partida,
enquanto fizer versos e tiver vida.
APROVEITE A RACHEL ANTES QUE ACABE !...
Dezembro/1993