BRANDURA

Já andei por esses caminhos

resgatando almas de abismos

puxando os fios de suas vidas

até sangrarem-me as mãos

em lutas e malabarismos

tentando estancar feridas

expostas por todos os vãos

Sempre a mesma pergunta

na boca, nos olhos, na dor:

Por quê? Por quê? Por quê?

E nesse papel de inquisidor

palavras eram lâminas afiadas

feriam como pedras lançadas

de efeito devastador

E foi nessas tristes andanças

que aprendi a lição da brandura

e abandonei as cobranças

- em vez de ser a borrasca

eu procuro ser o farol

a mão no ombro é a mão que cura

o abraço é o laço que refaz a confiança

palavra de estímulo é acupuntura

e nos cantos onde a palavra não alcança

sorriso é janela aberta para um novo sol