Por outros caminhos

Ribombou na noite cega o sino

Que ensurdeceu minh’alma: - Blim-blom, blim-blom!

E eu que andava ao léu contigo

Buscando abrigo, louca mansa

Manca da alma, solitária do espírito

Vagueávamos noite adentro

Tal qual zumbis sedentos

Vampiros se esgueirando por ruelas

Em busca do sangue que iria nos suster

- Pra que temer! - dizia eu

Na ânsia de vê-lo na sarjeta comigo

Sufocando de sangue até não mais poder!

Achava-me forte, nada podia me vencer

Atônita na chuva, na madrugada

Raposa esperta eu me julgava

E te carregava para roubar nosso alimento:

Algoz alento, que nos matava aos poucos

Sem deixar-nos perceber

Mãos dadas pela desgraça saíamos

Tão loucos que nunca dormíamos

Internados nesse daime insano

De ser e estar sem ter ciência, como nem se aperceber

Um dia meu peito cansado se estraçalhou

Senti o cansaço do tempo perdido

Nas páginas rotas viradas da vergonha

Que eu nem mais tinha e nem sentia

Pois já me guiava Satanás:

- Menina do sorriso largo, te carrego!

- Tu comigo agora vais!

Lavei o rosto, fitei-me no espelho

Sulcos cansados, puro desgosto

A faca pego e gritando digo:

- Viver eu já não quero mais!

Enquanto isso, dentro do meu ventre latente

Outra vida implorava que eu ficasse

Semente de candura, da esperança e da luz

Que me rebuscou das trevas a avisar-me:

- Nova vida tu terás!

Mesmo sem ter certeza nem saber

O que o futuro me acenava

Um presente, de repente disse: - Arreda Satanás!

Ouvi ao redor uma oração, vozes contritas

A Deus implorei salvação

Uma mão então me segura, e me conduz

- Estou livre, Jesus?

- Estás salva, serás MÃE!

JANA CRAVO
Enviado por JANA CRAVO em 12/01/2011
Código do texto: T2725048
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