Albatroz
Majestoso pássaro, a cortar os céus,
A romper o Universo, a alcançar grandes
vôos...
Albatroz de imensas asas,
De liberdade infinita...
Retornas ao ninho, fixado no penhasco,
No topo da vida, ligado às nuvens...
Albatroz liberto, albatroz feliz...
Sobrevoas rochedos, aldeias, mundo!
És livre qual a brisa a acariciar
A mata.
A água a tocar a s rochas,
A chuva a dançar nos rios.
A neve a cobrir os montes.
És livre qual a paz,
Que reside em teu voar...
Albatroz, não conheces o chão,
A prisão, a solidão...
Albatroz fique atento, nunca feches
Tuas asas...
Nunca toques este chão.
Um dia, sem que percebas,
Cortam-te as asas,
Roubam-te o espaço,
Prendem em teus pés
Um fardo imenso...
Teu vôo é rasante,
Não vai mais aos montes...
Se tentares subir,
Livre como dantes,
Sentir liberdade, a brisa suave,
Sucumbe no ar, junto aos rochedos...
O mar se torna encarnado,
Qual mar vermelho de Moisés.
Albatroz, assim tu morres...
Para ti mesmo
Por quem te aprisionou, sufocou...
Porém, nos ninhos dos penhascos,
Outros albatrozes nascerão.
E o homem será pequeno
Para colocar tantos grilhões!
( Ana Stoppa, do livro “Diagnóstico”, 1989)