PRENDA DE NATAL (um quase poema em -al)
"-Claro..."
disseste-me
sem sequer te levantares do teu jornal
"-...escolhe tu, não tenho paciência
para prendas de Natal"
Olhei-te
através de um copo de cristal
e pareceste-me pequenino
irrealmente tocado pela tremeluscência
dos enfeites da árvore artificial
"-Tens que vir comigo, para pagares..."
Agora dignaste-te
levantar o cu do teu desdém fatal
"-Claro..."
"-E também para eu te dar a minha prenda...
não mais o meu presente..."
disse eu, já mais para mim
Clara é a vontade, quando se afirma
Já tenho os documentos preparados
A data marcada a vermelho
Os preparativos ultimados com precisão
E os detalhes trabalhados para um "grand finale"
Vou querer para mim o presente ideal:
"A Minha Vida"
No cartório, à hora marcada
sei que vais achar muito, o meu presente
-a minha vida-
e pouco, o teu
-tudo o que adquirimos por comunhão material-
Mas não há condicional
Afinal tu é que escolheste
a minha prenda de Natal!