PARADA DE ONIBUS
PARADA DE ONIBUS
Num ponto de onibus a beira da estrada,
uma lampada sobre minha cabeça,
clareava um ponto de interrogação.
O frio que me banhava apesar do casaco de lã,
não esquentava a letargia da minha alma.
A noite ficava a minha espreita,
como um caçador a caça,
numa vontade de sacudir meu corpo
para que tudo se recompusesse.
Cais onde não aportam navios,
não existem muralhas de segurança;
nem estradas onde não passam carros,
não ha necessidade de acostamento.
Eu era a face do abandono!
O orvalho silencioso contribuia
para que eu pudesse ser sua morada.
Nada naquela noite me metia medo.
As arvores inertes ao meu redor,
mudavam suas formas sob o luar seco.
Os poucos sons que vinham da mata,
era como se fossem velhos conhecidos.
Não se tem medo do que é sabido.
Pois dentro de mim, meu coração era
a unica usina de gritos compulsorios.
Aquela cadencia de batidas
não seguia o meu ritmo.
ABANDONADO...
Nem sei mais por quem ou do que.
Era um imenso vazio,
que eu não sabia como preenche-lo,
nem do que necessitava.
Até a noite ia sendo abandonada,
pela madrugada que vinha imperiosa.
Trazendo uma luz aos meus olhos,
que os deixavam áridos.
Não, abandonado não!
Podia me sentir muito só,
não sentir dores pelo corpo,
não conseguir reconhecer o sol,
mas abandonado, não!
Eu só não estava tendo condições
de colocar tudo em cada lugar,
em cada momento oportuno
para que tudo se encaixasse.
Um suspiro mais longo e repentino,
fez com que meu peito se movimentasse,
delatando um sinal de vida,
como me acordando e dizendo:
- Ei cara, estamos juntos nessa!
O que tiver que mudar, mudaremos.
O grito que tiver que sair, sairá.
A lagrima que tiver que rolar, já rolou.
A estrada é nossa e não precisamos de um ponto final.
Não, abandonado não!
E pensando bem, nem tão só.
Nem tão distante como queriam,
nem tão próximos como me cobravam.
Calculei distancia e parti!
Aquele ponto de onibus era o marco zero.
Foi a partir daqui, isso deixei marcado.
Não, abandonado não!
A paixão por mim me guiava,
era, sou um apaixonado
e vou ser mais a partir de agora.
Eu me descobria naquele instante,
foi a maior libertação ja liberta,
foi o maior grito já dado.
Saudades sim,
desespero, não!
Di Camargo, 01/10/2010