Fumaça
Essa fumaça
Que paira diante de meus olhos,
Esconde minhas lágrimas,
E não diz nada do que eu
Gostaria de saber.
O passado, tocando em meu
Ombro,
Desvia minha atenção.
Mas apenas por alguns instantes.
A dor, inoportuna,
Adora fazer-se notar.
E consegue.
Sinto um gosto amargo,
E a cabeça parece querer explodir.
Ouço o quase imperceptível Barulho
Do gelo derretendo,
Enquanto o agridoce
Sangue
Percorre os lábios
E chega ao coração.
A fumaça continua sua dança
Diabolicamente sensual.
Gritos na madrugada:
Pela janela do quarto, acompanho
A degradação do mundo.
Diante do espelho,
Um estranho
Sorri para mim,
Melancolicamente feliz pelo
Reencontro.
[Ela ainda brinca no ar.]
A chuva quer cair,
Eu quero viver.
O tempo passa, com a velocidade
Dos meus pensamentos.
Não há nexo,
Razão,
Lógica,
Ou motivo.
Apenas a vontade
De Ser e ter...
O quê, não sei.
Apenas preciso.
Assim como a fumaça,
Sou transitório.
Em corações que me querem,
Em lembranças despedaçadas,
Pela raiva e indiferença.
Leve, sutil,
E fatal
Esse ódio tenta seduzir-me
Mais uma vez.
Mas eis que surge a brisa da Madrugada,
Com suas carícias e conselhos,
Que envolvem meu rosto e corpo,
Num prazer indescritível.
Ela demonstra sabedoria,
Cautela e bondade,
Dissipando a fumaça,
Que sofregamente
Tenta ficar.
Os olhos enxergam além do fim,
E vislumbro um futuro
Árduo e difícil,
Contudo, recompensador.
Vejo-me sorrindo, sofrendo,
Chorando,
Mas, sobretudo, vivendo,
Ao seu lado.
Para sempre.