Fumaça

Essa fumaça

Que paira diante de meus olhos,

Esconde minhas lágrimas,

E não diz nada do que eu

Gostaria de saber.

O passado, tocando em meu

Ombro,

Desvia minha atenção.

Mas apenas por alguns instantes.

A dor, inoportuna,

Adora fazer-se notar.

E consegue.

Sinto um gosto amargo,

E a cabeça parece querer explodir.

Ouço o quase imperceptível Barulho

Do gelo derretendo,

Enquanto o agridoce

Sangue

Percorre os lábios

E chega ao coração.

A fumaça continua sua dança

Diabolicamente sensual.

Gritos na madrugada:

Pela janela do quarto, acompanho

A degradação do mundo.

Diante do espelho,

Um estranho

Sorri para mim,

Melancolicamente feliz pelo

Reencontro.

[Ela ainda brinca no ar.]

A chuva quer cair,

Eu quero viver.

O tempo passa, com a velocidade

Dos meus pensamentos.

Não há nexo,

Razão,

Lógica,

Ou motivo.

Apenas a vontade

De Ser e ter...

O quê, não sei.

Apenas preciso.

Assim como a fumaça,

Sou transitório.

Em corações que me querem,

Em lembranças despedaçadas,

Pela raiva e indiferença.

Leve, sutil,

E fatal

Esse ódio tenta seduzir-me

Mais uma vez.

Mas eis que surge a brisa da Madrugada,

Com suas carícias e conselhos,

Que envolvem meu rosto e corpo,

Num prazer indescritível.

Ela demonstra sabedoria,

Cautela e bondade,

Dissipando a fumaça,

Que sofregamente

Tenta ficar.

Os olhos enxergam além do fim,

E vislumbro um futuro

Árduo e difícil,

Contudo, recompensador.

Vejo-me sorrindo, sofrendo,

Chorando,

Mas, sobretudo, vivendo,

Ao seu lado.

Para sempre.

Gustavo Marinho
Enviado por Gustavo Marinho em 17/11/2010
Reeditado em 17/11/2010
Código do texto: T2620026
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