Repaginando a vida
Limpei o armário.
Joguei fora as fantasias rasgadas.
E pra não dizer que não guardei nenhuma
Fiquei com aquela que me deixou nua na casa das mulas mancas.
E pra zombar da vida, dei gargalhadas salgadas, ardidas.
Engoli o azedo sombrio dos prazeres malditos.
Saindo apressada busquei rosas manchadas.
Que queimaram em paixões eloqüentes
Maldizentes, mas tudo era em vão.
Nem fada nem madrinha
Eu não era nem boazinha
Mas queria buscar os sonhos que me roubaram.
Queria de volta os doces que me tomaram.
Não. Não é tão fácil assim.
As fotos, as cartas e as jóias falsificadas
Bijuterias manchadas
Todas no lixo.
Minhas roupas agora são leves.
Armário vazio, gavetas arrumadas
Pulseiras quebradas.
Meus braços são livres.
Vazia?
Nem tanto.
Vejo-me assim
Enchendo-me de mim.
Livre dos trapos.
Sem lembranças, sem amarras.
Lili Ribeiro