FAVELA

Favela...

Duas mãos unidas

Contra o céu cinzento

Calejadas de casas oprimidas

A lei do silêncio contundente

Caindo sobre o sonho

Tão distante

O dia adormece

E Deus acende o firmamento

As luzes da cidade

São vaga-lumes

Estrelas despregadas

Ilusões perdidas

As nódoas dessas mãos

São pobres casas

Mal iluminadas

Porém existe algo sedutor

Nas vias da favela

Embora o Zé

Só ganhe pra cachaça

O Beto venda balas

Lá na praça

E a Maria fuja da desgraça...

O que importa mesmo

É que o mundo fica lá embaixo

Mas a lua entra sem bater à porta

E vem sentar-se à mesa

Nem Deus nem ela reparam na pobreza

Que importa a falta de dinheiro

Quando o olhar alcança o mundo inteiro

Se temos a lua e as estrelas

Se o sol prefere o morro

E aqui ele vem primeiro

Embora haja pobreza

E um pouco de crueza

Há superioridade na favela

Porque o sol a ama

E a enlaça em um abraço

E o mundo tem de erguer os olhos

Ao olhar para ela!