Cotidiano
No dia de hoje houve versos e falhas
Prosas mal postas, dispostas ao desentendimento
Corri na direção oposta, puro recolhimento
Não quis fazer verso ou prosa
E coloquei no papel um breve lamento
No dia de ontem apenas o telefone tocou
E estava do outro lado da linha, sem entrelinhas
Alguém que ninguém nunca imaginou
Uma voz cega e surda, coroada de mágoas e de erros que não cometeu
E ficou pelo ar, algo da vida que alguém aprendeu
E anteontem ainda, no ônibus sorri pelo sol
Pensei que era dia de contra, mas era dia de prol
Apenas menti, sem saber onde ir
Ainda dormindo por baixo do lençol
Mas sei que era certo, e o que julgava perfeito
Derramando a verdade escrita num rol
E amanhã, juro, vou levantar a moral
Promete, vê se me lembra, de dizer: - Bom dia!
Será outro dia, e alegria virá, coisa e tal...
E o que era incerto estará desperto
Talvez se torne perfeito nesses dias sem sal
Escrito em 24 de abril de 1992.