PINGO D'ÁGUA

Alma vazia

Cisterna vazia

E a réstia de carne seca...

Alma vazia

Barriga vazia

É a terra morta. É a seca.

Oh, meu Deus! Que terra é essa?

Que restou do ribeirão?

O seu leito em rachaduras

Do meu gado, o seu caixão

A capela abandonada

Nem um anjo ou sacristão

Prá trazer uma mensagem

De esperança e salvação

O cerrado agora é cinzas

Foi perdida a plantação

As sementes que sobraram

Eu guardei no meu gibão

Os meus filhos pedem água

De saliva, eu encho a mão

E aos pequenos animais

Dou um gole desse chão.

Este azul que é esperança

Ressecou minha visão

Quero o céu toldado em cinza

Quero raios e trovão...

Oh, meu Deus! Que terra é essa?

Vê, dos corpos, o estupor

Dominando as nossas almas

Com morte, secura e dor

São ossos abandonados

Espalhados pelo chão

A visão de Ezequiel

Refletida no sertão

É o teu povo de Israel

Vivendo na escravidão

Pela lei, os condenados

A viver em sequidão

Mas sou filho da promessa

Que fizeste a Abraão

Um hebreu em terra estranha

Suspirando por Sião...

A semente e a dura terra

O teu povo e o enxadão

Aguardam um pingo dágua

Trazer vida ao teu sertão.

Moses Adam

Batuíra, Poá, 1106/2010