Triologia para voltar de uma viagem perdida


COSMO FECHADO

picos de gelo
e de fogo
trespassam-te
de lado a lado
tudo é nada
uma snifada
a picada indolor da agulha
vives visões
teu universo nublado
escorregas
tudo é escorregadio e pardo
vais tonto
vais perdido de todo
náufrago sem estrela
a vaguear no teu cosmo.


A CAMINHO DE LUGAR NENHUM

é dia pleno
mas cerras os dentes de medo
na vertigem
suspenso
furas a noite impávido
vais no escuro
sonhas que vais afoito
de punhos encalvinhados
vais no imponderável
desequilíbrio
rente aos prédios
encolhido
ultrapas as entradas
tremendo
se salta de lá o terror
que levas dentro?!
vives na margem
de um rio
mas o rumor da água
passando
soa-te ao ruir do mundo
olhos baixos
não vão vê-los e a ti neles!
insano os ergues
arregalados
olhando para todos os lados
como um camaleão
ai pudesses tu
passar assim disfarçado!
tem-te-não-caias
tem-te-não-caias
lá vais tu
cambaleando
a caminho
de lugar nenhum...

SÊ!

gritam-te as sombras
inventadas
em todas as esquinas
caminhas acéfalo
caminhas desvairado
nem sabes para onde vais
por onde vais
perdeste tudo
porque perdeste a magia do sonho
e o sonho é tudo
sonhando rir-te-ias de ti mesmo
dos fantasmas que inventas
acordado-dormindo
nem chegam a coagular-se os sonhos
que te dariam os sonos
mesmo se inquietos
perdeste-os
perdes-te de ti e dos outros
quem serás?
aonde vais?
e chegarás?

nunca
nada
jamais!

desgraçado de ti
corre!
não páres!
não olhes para trás!
aguenta-te
que és capaz!
estende o olhar
abre os sentidos
e vê!
apanha os sonhos caídos
e sê!