SOBRA
ÊLE FAZ o grito
e não cobra.
Segue o rito
mas, não sobra o mundo no dedo.
Tece a morte em tijolos sujos
de cal e cimento.
Corta os sonhos das mãos.
Mata-os.
E depois deixa crescer.
E depois deixa escapar.
Procura num leito vazio
sanar o encontro adiado;
o passado incerto
que pousa em nuvens ainda amorfas.
Esboça um sonho
e fecha na caixa sem fundo e
tampouco sem chave.
Isso é o fim.
Sem preço, sem nexo, sem dúvida.
A bomba vem e apaga projetos,
murcha as últimas rosas.
O homem nasce e cresce com náuseas.
E quer amar a parede, a foto,
o corpo ainda verde
e todas idiotices que há.
Quem amaria a um ser assim?
e êle ainda perdido
faz o grito sem eco.
Calado, intacto
e sôbre os ombros carrega
os traços do pecado.
Espera.
Espera quem sabe um dia,
amanhecer.