QUANDO VENS?
Se vieres nas manhãs
(se puderes que assim venhas)
Deixa as tuas coisas vãs
Teus afãs e tuas senhas.
Põe aquele teu vestido
Tu bem sabes – são vaidades!
Dá-me um beijo enternecido
E me olha com saudades...
Se às tardes tu vieres,
De voltar, não tenhas hora,
Nem perguntes por mulheres
Que há tempo foram embora.
Às noites, se tu vieres,
Que não sejas só mais uma,
E me tenhas... se quiseres,
Só não firas coisa alguma.
Nas manhãs, se inda ficares,
Não orando teu rosário,
Podes procurar lugares
Pras tuas coisas no armário.
Mas não mudas de lugares
Qualquer coisa de meu uso,
Se por quê me perguntares
Nem eu sei, mas me recuso.
No passado, tu não mexas!
Lá eu guardo meus segredos,
Não te servem às tuas queixas
E nem curam os teus medos.
Saberei criar espaços
Quantos for o teu amor,
E terás todos os meus braços
Pro teu corpo se dispor.
Se vieres, qualquer hora,
Nada digas, nada ouses,
Vem com tempo e sem demora
Nos teus seios me repouse.