A luz no fim do túnel

Nasce, broto, chispa de luz. Fadas e anjos te cerquem com rosas e estrelas, perfume e brilho de vida. Vê os seus condões, contempla as suas asas e voa a inocência enquanto a consciência não te tome de assalto. Riam seus olhos claros, faróis do berço onde te cercas de mimo e prisão. Rola, engatinha, caia para os lados onde o chão ainda é fofo e se espante que ainda hão de te alentar. Dorme silente em regalo que num pouco intervalo tu te acordas gritando. Tens medo de nada mas à porta parada tu tens aconchego.

Vai, menino, teu céu te acompanha, teu brilho já quase cintila, teu frescor sobrevive ainda que teimes em crescer. Vai, menino, chuta essa bola, rala os joelhos e não chora, cai e levanta por que há males maiores. Sangra e assopra e arde com os homens. Suspira baixinho e sozinho com os anjos que você ainda vê.

Aprende, criança, que a vida é uma escola. Leva a lancheira, não esqueça o horário, partilha o que é seu mas não queira o dos outros. Dê mas não pegue e não se rebele que é um tanto pior. Queime por dentro e conhece o castigo, que virá mesmo quando culpa não tiveres. Aprende imundície já cedo que o mundo não é belo e guarda um facho da tua verdade bem escondido no teu coração. Despeça-se das fadas e do aroma das flores que só as virá nos seus sonhos e só o sentirás no fundo do poço.

Contrarie, rapaz, que ao jovem tudo é permitido. Vá em frente, experimente, que erros e acertos moram no tentar. Despenques mas se levante, por que lá embaixo tu pareces pequeno e já nem todos virão te embalar. Nem te digo cuidado, por que longe de mim tu és mesmo você. Vai, rapaz, projeto de homem, teu brilho alumia conforme te entregas. Vai que é mesmo difícil, tu bates à porta mas te batem de volta. Vai perder a singeleza, vai por aí, doer para vencer.

Não tripudies, homem, que tu morres também. Não queiras te esquecer, que a tua alma toma nota. Mas tripudiaste, homem, e agora pagas caro o sabor da tua derrota. Desespera-te e padece e te arrepende com os homens de mal. Suspira baixinho e sozinho com os anjos que ainda te acompanham. E abres o facho que bem guardaste bem dentro de ti que ainda verás a tua luz. A luz no fim do túnel.

Paulo Sartoran
Enviado por Paulo Sartoran em 14/03/2010
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